Texto de apresentação do romance O Quinze e resumo de algumas de suas obras

Texto de apresentação do romance O Quinze
Rachel de Queiroz

          “Respeitável público. Eu achava infinitamente cômicas as arengas dos empresários de circo no sertão, quando falavam ao respeitável público antes da função começar. E agora aqui estou, repuxando as mangas, temperando a garganta, com as vozes comovidas e o gesto trêmulo, fazendo também minha apresentação. Respeitável público! O Quinze é uma ousada ingênua ensaísta. Livro feito aos 19 anos, há de ter de ter todos os defeitos daquilo que a gente produz nesta idade em que estou, quando não se tem a sossegada prudência de ir devagar pra fazer bem feito, quando nos governa a impaciência insofrida de não esperar, de ver o nosso pensamento, mal concebido, logo escrito, impresso, disseminado, cotejado com outros alheios, fazendo parte do patrimônio mental da humanidade. Esta, pelo menos, é a explicação que dou a argüição de não ter esperado mais tempo para fazer correr mundo meu romance.
          Escrevendo o meu livro, fi-lo na linguagem corriqueira de todo mundo. Deixei que a pena corresse como corre a língua e fui arrumando os verbos e as locuções, os advérbios e os pronomes, no nosso jeito habitual e caseiro, simplesmente, singelamente, como honestos matutos que vestem sua roupa melhor, a de ir à cidade, mas que nunca pensa em competir com a gente da praça, que sabe o que é seda cara e traja terno de luxo.
          Correm ai, dentro do O Quinze, palavras e expressões genuinamente cearenses, desconhecidas fora de nosso meio, como por exemplo inorar (ignorar), que significa no sertão separar, notar, comentar; andar por terra, no sentido de viajar pela estrada de rodagem, a pé ou a cavalo, em lugar de andar no trem; espritado, variar, Nambi e muitas mais. Aconselharam-me a fazer um glossário. Mas glossário é uma coisa muito grave, é pra livro consagrado, livro em terceira ou quarta edição. No romaneco anônimo, editado em província, ele da uma impressão terrível de presunção e pernosticismo. E resolvi não o fazer. Poderia ainda explicar muita coisa mas, respeitável público, com licença: é melhor passar a página seguinte, e cada um vá julgando por si.
           Fortaleza, 30 de maio de 1930"
          
           Resumo do romance O Quinze


         
            "Primeiro Plano- Vicente e Conceição
            O primeiro e o mais popular romance de Rachel de Queiros é O Quinze. O título se refere a grande seca de 1915, vivida pela escritora na sua infância. O romance se dá em dois planos, um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora.
             Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler vários livro, inclusive de tendências feministas e socialistas o que estranha a sua avó, Mãe Nácia- representante das velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se “engraçava” à seu primo Vicente.
              Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem. Com o advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição trabalhava agora no acampo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava “de caso” com “uma caboclinha qualquer”.
               Enquanto ela se revolta, Mãe Nácia à consola dizendo: “Minha filha, a vida é assim mesmo...Desde hoje que o mundo é mundo... Eu até acho os homens de hoje melhores.” Vicente se encontra com Conceição e sem perceber confessa as temerosidades dela. Ela começa a tratá-lo de modo indiferente. Vicente se ressente disso e não consegui entender a razão. As irmãs de Vicente armam um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha Garcia.
               Ela porem se espanta em “saber” que estava namorando, dizendo que apenas era solícito para com ela e não tinha a menor intenção de comprometimento. Conceição percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e a quase impossibilidade de comunicação. A seca termina e eles voltam para o Logradouro.

               Segundo Plano- Chico Bento e sua família
               Sem dúvida a parte mais importante do livro. Apresenta a marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus cinco filhos, representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara. Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para atravessar o sertão.
               Tinham o intuito de trabalhar no Norte,extraindo borracha. No percurso, em momento de grande fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca crus, envenenando-se. Agonizou até a morte. O seu fim esta bem descrito nessa passagem: “Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada a fora. Não tinha mais alguns anos de miséria a frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra da mesma cruz.”
                Uma cena marcante na vida do vaqueiro foi a de matar uma cabra e depois descobrir que tinha dono. Este o chamou de ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes apenas as tripas para saciarem. Léguas após Chico Bento dá falta do seu filho mais velho Pedro. Chegando ao Aracape, lugar onde supunha que ele pudesse ser encontrado avista um compadre que era delegado. Recebe alguns mantimentos, mas não é possível encontrar o filho.
               Ficam sabendo que o menino tinha fugido com comboeiros de cachaça. Notem: “Talvez fosse até para à felicidade do menino. Onde poderia estar em maior desgraça do que ficando com o pai.” Ao chegarem no campo de concentração, são reconhecido por Conceição, sua comadre. Ela arranja um emprego para Chico Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem também uma passagem de trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar com a borracha."
                
              Resumo do livro Dorâ, Doralina
         "A narração pela personagem-protagonista, Dora Doralina, como gostava de ser chamada, afinal era assim que seu pai a jogava para o alto e dizia carinhosamente são reminiscências de sua infância na cidade Do interior do Ceará, Aroeiras, na fazenda Soledade. com a morte do pai, sua mãe - tratada por Senhora - era quem a tudo e a todos dominava. Uma mãe-mulher que adultera com seu genro, Laurindo, Um homem sem valores, um agrimensor que casara por interesse. Só não se sabe se o caso com a mãe já existia antes do casamento.
          A primeira parte ?O Livro da Senhora? se dedica mais ao caso de Senhora e Belmiro, um fugitivo que encontrou em Doralina uma santa a lhe salvar a vida quando em Soledade apareceu todo ferido e foi curado e hospedado. Tudo indica que foi Belmiro quem matou Laurindo para lavar a honra de Doralina. Aliás, crime que nunca foi desvendado e nem mesmo vinte anos depois, quando Belmiro foi encontrado em decomposição, numa cabana em que vivia como um ermitão.
          A segunda parte é ?O Livro da Companhia?, acontece quando Doralina vai morar na pensão de D Loura, onde trabalha administrando a pensão, depois conhece o senhor Brandini, dono da Cia Comédias e Burletas Brandici Júnior, e passa a transcrever os textos das apresentações e depois quando uma das atrizes vai para São Paulo, Doralina ocupa seu lugar nos espetáculos. Com apoio sempre de dona Loura, que mais parecia sua mãe, inicia sua vida como Nely Sorel. Faz inúmeras viagens, até que conhece o Comandante de um navio e se apaixona por ele. E larga a cia, mas continua sempre amiga de Estrela e Brandini.
          A terceira parte O Livro do Comandante ou do Cadete Lucas, é sua história ao lado de Asmodeu ? nome bíblico e demoníaco ? um homem com quem se fez feliz sempre, mesmo entre tantos desconfortos e apertos, pois apesar da profissão de professor de tiro, era mesmo contrabandista de objetos menores, viviam assim, desses trabalhos ilegais. A cumplicidade é a marca da fidelidade entre os dois, que passam a vida lutando pela sobrevivência, até que um dia mais uma vez sua febre chega e não vai embora, o leva.
          Com a morte do comandante, Doralina volta para a fazenda no tempo certo, tempo de tudo recomeçar com a mesma força e pertinácia de Senhora e acordar sos empregados e dar vida a um mundo de pessoas que não sabem viver sem um senhor. Até onde a escravidão condena um homem em não saber mais quem é e o que pode fazer por si mesmo, passando por um processo de morte quando livre de seu dono.
          Enfim, Doralina, é obrigada a tomar a frente e continuar vivendo, mesmo que nada mais tenha motivo de alegria.
          Sua vida toda foi um lutar por estar viva...Como dizia capitão no início do livro quando ainda não o conhecíamos e que Doralina já falava dele com tanto amor: ? Doer, dói sempre. Só não dói depois de morto, porque a vida toda é um doer?
          O autor narra a história de uma personagem que ora some entre tantas superstições, crenças e adorações.
          Um povo nordestino que crê muito em santos e neles coloca responsabilidades pelo que acontece em suas vidas. Como foi o caso de Belmiro.
          Doralina inicia a narrativa refletindo sobre a dor e seus efeitos, desgastes. Queria ser Alegria ou Isolda, mas Doralina aceita sua história e seu nome ora no plano psicológico, ora cotidiano, tentando narrar sua própria história, através de tantos outros personagens que acompanharam sua vida e que mesmo longe deles não conseguiu se desvencilhar da teia densa que a prendia dentro do triângulo amoroso: sua mãe, ela e Laurindo...Um adultério enterrado e mal resolvido que ira acompanhá-la para sempre."

          Resumo do livro As três Marias



          "O romance é narrado por Guta uma das protagonistas da história e começa quando esta vai para um internato em Fortaleza no Ceará aos 12 anos, lá ela conhece Maria José e Glória onde nasce uma profunda amizade entre as três. Ficaram conhecidas como As três Marias por uma freira que assim chamou-as por causa de seus nomes:Maria Augusta, Maria José e Maria da Glória e porque viviam sempre juntinhas como a constelação de Orion. Juntas, as três marias ajudavam as outras amigas a solucionar seus problemas.

          O tempo passa e o estudo no internato acaba, agora já adultas cada uma segue um rumo, mas a amizade prevalece.

          Glória logo se casa, com Afonso e tem um filho.

          Maria José vai morar com a mãe e os irmãos, se torna uma mulher muito religiosa se afastando dos prazeres da vida, já que ela acha que é pecado, e arruma um emprego como professora.

          Guta após sair do internato vai para o interior morar com sua família, mas acaba percebendo que sua família quer transformá-la em uma dona de casa. Descontente, Guta volta para Fortaleza, começa a trabalhar como datilógrafa e vai morar com Maria José, algum tempo depois ela conhece Raul por quem se apaixona mas logo termina o romance, pois ele era casado e queria que ela fosse sua amante.

          Depois de terminar com Raul, Guta percebe que seu amigo Aluísio está gostando dela, só que alguns dias depois de perceber isso Aluísio suicída-se, todos culpam Guta por isso.

          Guta muito triste com os últimos acontecimentos decide tirar umas férias e vai para o Rio de Janeiro lá conhece Isac um estrangeiro, que lhe apresenta a cidade. Guta se apaixona por Isaac com quem tem sua primeira noite de amor.

          O tempo de férias acaba e Guta tem que voltar para Fortaleza, chegando lá ela decide voltar para o interior para morar com sua familia. A história termina com Guta desconfiando que está grávida."



Fonte: site da internet.